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Gaby: 00:00 – 00:25 Em O Senhor dos Anéis, há uma cena em que Boromir segura o anel brevemente antes de devolvê-lo a Frodo, o portador do anel. Depois que Boromir diz “Não me importo”, vemos Aragorn, encarregado de proteger o anel, e Frodo, cerrando sua espada. Somente nesta cena, vemos que Aragorn não confia em Boromir para resistir à tentação do poder do anel.
00:26 – 00:47 “Mostre, não conte” é um conselho poderoso tanto na escrita quanto na produção de filmes. Escritores e diretores muitas vezes aproveitam de símbolos, motivos, referências culturais e nossas intuições para revelar o que realmente está acontecendo em um filme, sem precisar que ninguém diga isso. Uma distinção notável, especialmente em filmes mais antigos, é entre o “mocinho” e o “bandido”.
00:48 – 1:23 Nos filmes de faroeste, os “chapéus pretos e brancos” eram uma forma muito comum de distinguir o protagonista do antagonista. Isso foi originalmente usado em filmes mudos para ajudar a estabelecer visualmente quem era o herói e quem era o vilão. Chapéus brancos eram frequentemente usados por heróis e chapéus pretos por vilões para simbolizar o contraste entre o bem e o mal. E essa tática continua até hoje. Em Star Wars, por exemplo, a tensão se constrói na luta entre o lado bom da força e o lado das trevas..
1:24 – 1:59 As histórias mais interessantes envolvem vilões com motivos convincentes. Nessas histórias podemos entender o que motiva o vilão e as diferenças irreconciliáveis entre o heroi e o vilão. Pense nos vilões dos filmes da Marvel: Loki tem ciúmes do Thor por possuir o Mjolnir (miolnir), por se sentir um inferior como filho adotivo. Thanos quer salvar o universo do mesmo destino de superpopulação do seu planeta natal, Titã. Kang manipula o livre arbítrio das pessoas para impedir uma guerra no multiverso com versões de si mesmo.
2:00 – 2:23 Mas os filmes modernos são caracterizados precisamente pela tênue diferença entre heróis e vilões. O drama de Kylo Ren, Darth Vader e Anakin Skywalker nos filmes Star Wars vem de sua luta interna entre o bem e o mal. Os personagens de Star Wars cometem erroneamente atos malignos em busca do que acreditam ser um “bem maior”.
2:24 – 3:12 Em muitos filmes, a distinção entre “mocinhos” e “bandidos” faz parte da identidade de uma pessoa. Mas a tensão vem da luta com suas ações. Os “mocinhos” às vezes caem e fazem coisas das quais se arrependem, e os “bandidos” às vezes têm um momento redentor. Veja Breaking Bad como exemplo. Walter White começa fazendo algo ruim para pagar o tratamento do câncer, mas isso o leva a uma espiral destrutiva. Jesse, por outro lado, tem um arco de personagem oposto. Ele começa como um traficante de drogas imoral que se redime. Isso cria tensão entre o que nós, como público, decidimos ser a “identidade” do personagem – seja ele um mocinho ou um bandido – e as ações que vemos esses personagens escolherem ao longo da série.
3:13 – 3:43 Talvez esta tensão seja cativante para nós como público porque sentimos uma tensão semelhante nas nossas próprias vidas. Não são muitos os que querem ser os vilões, mas ainda podemos nos identificar com ações das quais não nos orgulhamos. E muitos de nós ainda temos esperança de sermos pessoas “boas”, apesar de nossas ações. Quando examinamos nossas vidas para ver se somos uma pessoa “boa”, consideramos nossas ações de acordo com certos padrões. Mas também temos uma profunda esperança interior de que somos fundamentalmente “bons”.
3:44 – 4:09 Durante as décadas de 1950 e 1960, Aleksandr Solzhenitsyn (Solshenitz), um escritor russo e dissidente soviético, escreveu a peça Arquipélago Gulag expondo o tratamento desumano da União Soviética aos seus cidadãos. Muitas atrocidades aconteceram ao povo russo nas mãos do governo soviético. Solzhenitsyn conta o tempo que passou no Gulag, um campo de trabalhos forçados soviético, e como as pessoas se tratavam horrivelmente entre si.
4:10 – 4:49 Seria muito compreensível concluir simplesmente que pessoas capazes de torturar ou matar outras pessoas são pessoas más. Soljenitsyn não apenas viu essas coisas, mas também as experimentou pessoalmente. Numa das citações mais comoventes do livro, Solzhenitsyn partilha o que compreendeu durante os anos de reflexão no Gulag. Ele diz: “Se ao menos existissem pessoas más em algum lugar cometendo más ações insidiosamente, e fosse apenas necessário separá-las do resto de nós e destruí-las.” Mas a linha que divide o bem e o mal atravessa o coração de cada ser humano. Quem estaria disposto a destruir uma parte do seu próprio coração?
4:50 – 5:07 Todos nós queremos ser um dos bons. E quando olhamos para nossas vidas e somos honestos conosco mesmos sobre quem pensamos que somos, com o que estamos nos comparando? São os outros “bons” e suas ações? Ou precisamos primeiro olhar para os nossos próprios corações?